Especial Copa Zito: O Campeão Voltou

Confesso a vocês que, quando criança, nunca pensei em ser jogador profissional. Eu jogava futebol tendo como maior sonho representar a seleção do nosso município.
Sonho que ainda não alcancei e, provavelmente, não alcançarei. Já cheguei a conclusão de que não tenho futebol para isso.
Sinceramente, acho que depois desse último domingo, isso pouco importa, porque nunca fui tão feliz torcendo para um time como fui neste dia.
Aliás, não estava torcendo para um time. Estava torcendo por um município.
Era final da Copa Zito, Lagoinha contra Canário (atual campeão de São Luiz do Paraitinga). A velha rivalidade entre os municípios estava de volta ao maior cenário do futebol vale paraibano.
Na chegada ao estádio municipal de Roseira, local da partida, já apareciam os bons fluidos.
Cerca de 300 pessoas estavam presentes para acompanhar a partida. 95%, no mínimo e sem exageros, eram lagoinhenses. Quem lá estava, sabe que isto é real.
Alguns já não moram mais aqui, mas isso não importava. Ao contrário. Mostrava ainda mais importância a partida. Porque lagoinhense o é aqui ou em qualquer outro lugar do mundo. E sempre que Lagoinha o chamar, ele estará pronto a atender.
Pessoas que raramente vão aos jogos no nosso estádio municipal, foram apoiar a equipe. Não apenas foram ver o jogo. Cantavam o tempo todo, empurrando os jogadores. Algo que eu nunca tinha visto desde o primeiro título da Copa Zito, em 1994.
A Bateria Nota 10, sempre presente nos jogos da seleção em nosso município, também rumou para o município vizinho, e já começava a agitar a arquibancada 15 minutos antes do jogo.
Para o bem do futebol, nosso time não podia perder aquele jogo.
Que começou tenso, como toda e qualquer final. Bolas travadas no meio campo e poucas chances de gol até que Nezinho tira um passe mágico da cartola e coloca Nenê na cara do gol.
O jogador sub-21 mais promissor de Lagoinha não perdeu a chance e fez 1 a 0.
O time luizense passou a ter um pouco mais de posse de bola, mas nada que ameaçasse a alteração do placar. Muito pelo contrário.
O placar se manteve até o fim do primeiro tempo.
Na volta do intervalo, as tentativas do Canário começaram a vir de chutes de fora da área, mas a forte marcação e a incrível disposição de todos os jogadores lagoinhenses, aliadas aos gritos da torcida a cada bola ganha numa dividida, impediam que nosso goleiro Barbosa sofresse ameaças reais de gol.
E o balde de água fria não demorou a vir para os luizenses. Cobrança de escanteio que a zaga afastou para a direção de Fabinho. Da entrada da área, de perna esquerda, ele pegou de primeira e fez um lindo gol. 2 a 0.
E já se ouviam tímidos gritos de "É Campeão" vindos da arquibancada.
Por volta de 25 minutos do segundo tempo, a torcida passou a ter certeza da conquista.
Quando o Canário procurava uma maneira de reagir, Fabinho antecipou uma bola tocada para um atacante adversário na linha da grande área de defesa. E avançou.
Com a bola dominada, foi até o meio campo, tabelou com Nenê, deu um drible da vaca no zagueiro adversário e bateu na saída do goleiro. Um golaço! 3 a 0!
Jogada de Beckenbauer, como bem definiu meu pai, falando para o próprio Fabinho, seu afilhado, já em Lagoinha, no fim da noite.
A festa foi liberada de vez. O time era embalado ao som de "Eu sou lagoinhense, com muito orgulho, com muito amor" e, mais emocionante ainda, "Ôôôô, o Campeão Voltou!", cânticos que ecoavam das arquibancadas.
Só quem sentiu o que foi a final de 1994 sabe o quão difícil é vencer uma Copa Zito. O grito me fazia lembrar dos nossos heróis de 1994. Parecia que eu os estava vendo jogando. Ali, na minha frente, 17 anos depois.
Mas eles estavam na arquibancada, emocionados, apoiando nossos mais novos heróis, alguns até chorando, e, com toda certeza, tendo as mesmas lembranças que eu.
Já no fim do jogo, Val arrancou do meio campo, escapou de dois marcadores e chutou no canto esquerdo para fechar o placar  em 4 a 0, com chave de ouro.
E o que a esta altura já era certeza, foi apenas ratificado com o apito final do juiz: "O Campeão Voltou!"
Como eu disse no início, para o bem do futebol, nosso time não podia perder aquele jogo.
E não perdeu.
Ao contrário, deu show!
A torcida foi para dentro do campo, festejar com os jogadores.
Afinal de contas, o título era dela também.
Dela, dos jogadores, da comissão técnica e de todo o município de Lagoinha.
Já terminando esse texto, que escrevi com o coração, faço questão de fazer menção a Marcelo, Tó e Guelão.
Os três que tanto sofrem críticas (minhas inclusive), e que tanto perseguiam esta conquista, merecem os parabéns.
Porque, se alguma vez durante todos esses anos, eles tomaram alguma decisão errada, o fizeram buscando o melhor para o futebol lagoinhense.
O troféu desta Copa Zito é apenas uma coroa para o belo trabalho que eles fazem a tanto tempo.
Muito obrigado a todos. Jogadores, comissão técnica, torcida, enfim, a todos os lagoinhenses, por me possibilitarem ter a alegria que tive neste domingo.
Orgulho de ser de Lagoinha, eu tenho desde o meu nascimento.
Mas a emoção que senti hoje, eu só tinha sentido em 1994.
Dois anos, dois domingos, dois jogos.
Dos quais eu nunca mais vou me esquecer     
Seleção de Lagoinha, após 17 anos, o Campeão Voltou

por João Felipe Coelho Viterbo